segunda-feira, 14 de junho de 2010

Conspiração

Eu realmente acredito piamente que, em algum lugar desse universo, deve haver uma conspiração quântica para fazer com que aquelas coisas desaparecidas há muito, mas muito tempo mesmo, reapareçam cruelmente em um determinado momento, simplesmente do nada, em lugares que a gente mexeu todos os dias nos últimos anos e nunca estiveram lá, com a mais absoluta certeza. Mas aí um belo dia sabe-se lá porquê (aqui deve entrar uma equação tão cheia de variáveis que seria necessário um supercomputador que faria os da previsão meteorológica parecerem relógios-calculadora) reaparecem, plim, para nos dar um enorme murro no meio da cara. Just like that. Então primeiro a gente sente o sangue nos fugir das faces e das mãos e direcionar-se T.O.D.O para o estômago. Faltam forças, falta chão, falta profundidade em tudo que nos cerca, o mundo vai ficando progressivamente monocromático e contrastante até aquele ponto que antecede o desmaio. Aí, se a gente for forte o suficiente, consegue achar entre as coisas que se movem como se derretessem tal como uma tela do Dalí, um lugar para sentar e evitar se esborrachar no chão feito um saco de batatas. Feito isso, a cabeça está girando, mas só a parte de dentro dela. A gente tenta obter um referencialzinho que seja e tudo na volta desaparece. Só AQUILO existe. Aquilo e tudo que aquilo trouxe de volta, como se aberto estivesse um ralo para outra dimensão do tempo e do espaço que acaba de lhe sugar pra dentro. E então você está lá, de volta lá, naquele dia, naquela hora que você julgava perdidos para sempre, com aquela luz e aqueles cheiros, com os rostos das pessoas vívidos e perfeitos, as vozes claras, você de volta naquele seu corpo, dentro daquela roupa, daqueles sapatos, ostentando aquele sorriso que não doía, de posse daqueles olhos brilhantes cheios de inocência imbecil, com o peito rebentando de felicidade e certezas tão absolutas quanto cegas, coisas essas que você só saberia muito mais tarde, muito mais tarde, quando numa tarde de sol você abrisse uma gaveta que você tinha aberto incólume todos os dias até então e encontrasse aquele pequeno pedaço de você. Perdido. Para sempre.



Isadora Calderaro Soares




P.S: O quadro do início do texto é Persistência, de Dalí *-*

3 comentários:

  1. Os perfumes... sempre eles me fazem lembrar do que quero, e também do que não quero.

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  2. Acho que sei a que se refere este texto!

    =s

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  3. Perfumes me trazem muitas lembranças! Mas o pior para mim são os bilhetes. Continuam escritos ali, pretensiosos, dizendo o que sempre disseram. Tenho medo deles, sempre me lembram daquilo que eu não quero, do que dói. Não consigo rasgá-los. Acho que sou fã dos flagelos nossos de cada dia. :D

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